quinta-feira, 26 de abril de 2012

BREVE HISTÓRIA DAS ISCAS ARTIFICIAIS


História das Iscas Artificiais

A pesca esportiva com iscas artificiais, que vem crescendo muito no Brasil e é praticada quase no mundo todo, é uma técnica muita antiga. O uso de iscas artificiais para capturar peixes tem sua origem na aurora da humanidade. Iscas em marfim de morsa com mais de 4.000 anos (datados com carbono 14), eram usadas pelos ancestrais dos inuítas (como os esquimós se denominam) da Baía de Hudson para apanhar, sob o gelo, salmões e truta-das-fontes (salvelino-ártico). Muito antes da descoberta das civilizações da polinésia pelo capitão Cook, os esquimós usavam iscas feitas de nácar ou de osso de baleia para capturar atuns e outros grandes predadores. A sobrevivência do clã dependia muitas vezes do sucesso da pesca e destas iscas que deviam certamente ser eficientes e belas.
Nossos ancestrais pré-históricos dedicavam, para com as iscas de osso, nácar ou marfim, um verdadeiro culto do objeto. Existem muitos colecionadores modernos que, da mesma forma que os inuítas, dedicam um verdadeiro culto às iscas antigas. Para eles, os peixes como os seres humanos têm uma alma e esta “inua” (alma) tolera ser morta à condição de que seja por um objeto belo, daí a beleza das iscas dos esquimós.


Iscas inuítas (esquimós) do século XIX.

Na Inglaterra, a história das iscas artificiais foi registrada com a publicação, por Wynkyn de Worde, da obra “Treatyse de Fysshynge with an Angle” em 1496 (Tratado de pesca com anzol), fazendo parte da segunda edição de “The Boke of Saint Albans” (1486), que originalmente abordava apenas a caça.  Esse tratado é atribuído a uma mulher, a escritora e religiosa Juliana Berners, nascida no século 15. O livro tinha base em tratados anteriores do século 14, provavelmente traduzidos do francês, daí talvez a explicação de uma religiosa escrever um livro sobre pesca, pelo seu trabalho de tradução. É possível que o papel de Juliana Berners foi o de tradutora do francês para o inglês e que não tenha sido propriamente uma amadora de pesca. Mas trata-se aqui de uma hipótese e o que realmente importa são as observações feitas sobre a pesca amadora. As moscas artificiais, ou fly, descritas no “Treatyse” (Tratado), por exemplo, são surpreendentemente modernas, já que seis das doze mencionadas ainda são usadas atualmente.



Juliana Berners (nascida em 1388-?)

O primeiro período de grande avanço surgiu em meados do século 17, o que pode ser observado no importante livro de Izaak Walton e Charles Cotton que descreve novos métodos de pesca. O escritor inglês Izaac (ou Izaak) Walton (1593-1683) menciona a invenção de um “peixe artificial” destinado à pesca da truta. Sua famosa obra “The compleat angler” (“O pescador completo” ou “O perfeito pescador”, tradução aproximativa), publicada em 1653 e considerada fundadora da literatura sobre pesca amadora, descreve detalhadamente a curiosa isca em forma de peixe, assim como sua fabricação e os materiais utilizados.


Na verdade, a palavra “angler”, em inglês, significa o pescador de linha e anzol, daí a tradução em francês, “Le parfait pêcheur à la ligne” ou “O perfeito pescador de linha”, em oposição à pesca comercial. Nesses dois idiomas, há uma palavra ou expressão específica para o pescador que usa linha e anzol.
     A isca descrita por Walton é uma imitação de um vairão (do francês vairon), pequeno peixe típico de água doce, encontrado em regiões temperadas e frias, da família dos Cyprinidae, muito comum na Europa e no norte da Ásia. É o famoso minnow, termo frequente em nomes de iscas artificiais, provavelmente, porque o vairão/minnow é uma presa para predadores como a truta, por exemplo, já que não passa dos 25 cm e nada a uma velocidade máxima de 14,5km/hora, enquanto a truta nada a 26,5km/h e alcança um tamanho superior. Esta isca artificial teria sido fabricada à mão por uma mulher: “a massa ou corpo do vairão foi feita com tecido de lençol e costurada com agulha da seguinte forma: o dorso do vairão sendo de seda da França de um verde muito escuro, com uma seda de um verde bem claro perto da barriga e sombreada tão perfeitamente quanto se possa imaginar e como se vê em um verdadeiro vairão; a barriga também foi costurada com agulha, uma parte sendo de seda branca e outra com fio de prata; a cauda e as nadadeiras foram feitas com cálamos (eixo da pena) de um pássaro, o qual cálamo foi talhado bem fino; os olhos foram formados com dois pequenos grãos pretos e a cabeça foi tão bem sombreada, tudo tão curiosamente trabalhado, tão exatamente reproduzido que, em uma corrente rápida, podia enganar a truta mesmo que tivesse a visão mais penetrante.” Esse trecho que traduzimos da obra de Isaac Walton mostra como, há 350 anos, os pescadores tinham compreendido o interesse de uma isca imitando um peixe, assim como sua eficiência. Outra isca obteve sucesso no século 18: o “peixe de estanho” constituído, como seu nome indica, de estanho, mas também de um pedaço de cortiça coberto por uma pele de peixe.
São os anglo-saxões, verdadeiros adeptos da pesca esportiva como lazer, que vão desenvolver o conceito de “peixes artificiais”. Aproximadamente em 1800, o “Phantom Minnow” surge nas cestas dos pescadores britânicos. Era um peixe com a cabeça e as nadadeiras de metal fixadas sobre um corpo de seda.
Na França, sob o Segundo Império (século 19), é uma isca com nome apelativo que ganha forte fama: “le tue-diable” ou “o mata-diabo”. Trata-se simplesmente de um chumbo tipo oliva coberto por seda, para representar o corpo, envolto em fios de prata e ouro, e que é “uma coisa que não tem nada semelhante na natureza, mas que brilha muito”, segundo Henri de La Blanchère, Naturalista e Fotógrafo Francês (1821 – 1880), em sua obra “Dictionnaire Général des Pêches”, Dicionário Geral das Pescas, publicada em 1868.

Dicionário Geral das Pescas (1868)

Isca universal por excelência, a colher de metal teria sua origem na Inglaterra. Reza a lenda que a esposa de um lorde, que acompanhava seu esposo num barco enquanto pescava em um dos lagos de sua propriedade, deixou cair uma colher para o pique-nique. A esposa observou a colher afundar, girando sobre si, quando um pike a abocanhou!
Na França, esta modalidade de pesca é mencionada pela primeira vez por Charles de Massas em sua obra “Le pêcheur à la mouche artificielle et à toutes lignes" (O pescador com mosca artificial e todas as linhas) publicado em 1859 em Paris. A empresa Mepps, primeiro fabricante mundial de colheres foi criada em 1937 e, apesar de um nome com consonância anglo-saxã, era uma empresa francesa. Mepps significa “Manufacture d’Engins de Précision pour la Pêche Sportive” (Manufatura de Máquinas de Precisão para a Pesca esportiva) e foi recentemente comprada por capitais americanos.
Em 1874, é nos Estados-Unidos que são fabricadas as primeiras iscas patenteadas feitas de madeira. Em 1880, o vidro serve para a fabricação do corpo e em 1883, as primeiras pinturas são usadas por cobrir algumas iscas. Na verdade, apesar de não ser tão famoso na História quanto outro fabricante de iscas artificiais (Lauri Rapala), é James Heddon, originário do Michigan, que é considerado o primeiro a fabricar este tipo de isca feita de madeira.


Fotos da 1ª isca artificial comercializada pela James Heddon & Son em 1902, a “Dowagiac Casting Bait” e o próprio James Heddon.

Desde então, a evolução foi muito rápida de um ponto de vista técnico. De fato, já em 1907 são fabricadas as primeiras iscas articuladas, em 1917 em celuloide e foi em 1936 que Lauri Rapala lançou no mercado as primeiras iscas com barbela feitas com madeira balsa. Rapala, que pesca então os grandes predadores nos lagos da Finlândia, observou que os peixes atacam presas com nado errático, ou seja, que simulam presas fracas ou feridas. Ao esculpir as iscas na balsa, Rapala vai reproduzir da maneira mais exata possível esses comportamentos, e é por essa razão, ainda hoje, que as iscas “tradicionais” são tão eficientes e procuradas pelos pescadores.



Fotos de uma das primeiras iscas feitas por Lauri Rapala em 1938 e do próprio Rapala esculpindo e testando suas iscas artificiais.

Atualmente, os diferentes fabricantes rivalizam para deixar as iscas artificiais ainda mais eficientes. A utilização do plástico (ABS) permite inovações importantes, como a incorporação de esferas internas para emitir barulho. Na verdade, as densidades, as cores, as formas, os tipos de nado, fazem da isca artificial atual um objeto de alta tecnologia, mas que tem um objetivo equivalente àquela de 1653: enganar a vigilância dos predadores, a partir de uma imitação, para fisgá-los.

Fonte:

- http://fishingetmotion.over-blog.com/article-histoire-de-la-peche-aux-leurres-48928777.html
- http://autofishook.blogspot.com/

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