Capítulo
5 – SOBRE AS CORES DAS ISCAS ARTIFICIAIS
A escolha de uma isca artificial depende
de vários fatores tais como o tipo, tamanho, nado, barbela, cor, peso ou forma
(shape). Escolher a cor de uma isca é
sem dúvida uma das maiores dificuldades que o pescador enfrentará. Não entender
a importância das cores para a pesca esportiva é um erro gravíssimo.
Preconceitos
sobre as cores
Existem estudos sobre a visão do peixe
e o efeito das cores sobre ele, mas não dispomos de dados absolutos sobre o que
o peixe vê realmente. Sabemos, por exemplo, que algumas espécies têm a
capacidade de enxergar a luz UV (ultravioleta), por sua visão não funcionar
como a do ser humano. Percebemos também que o peixe, em relação ao homem, é
mais sensível aos contrastes e ao movimento do que aos detalhes.
Muitas ideias pré-concebidas ainda
existem sobre as cores ou os modelos de iscas. Na verdade, é difícil saber
diferenciar quando a cor ou o modelo da isca não funciona, de quando o peixe
está manhoso ou as condições estão desfavoráveis àquela isca. Para alguns,
basta usar uma isca numa única pescaria e que não fisgue nada com ela, para que
esta seja considerada ineficiente e seja abandonada no fundo da caixa de
tralhas. Por outro lado, muitos pescadores dizem possuir uma “isca milagrosa”,
que se torna a preferida, ótima em todas as circunstâncias. Mas essa isca
preferida pode não funcionar nas mesmas condições do que a abandonada. Por
outro lado, existem situações de pesca muito diferentes e as condições podem
mudar, necessitando alterações de estratégias e técnicas.
Assim, todo pescador deve se
interrogar da seguinte forma: Aquela isca abandonada foi trabalhada
adequadamente? Atingia a profundidade na qual poderia estar o predador? Era
adequada às condições de pesca?
Mesmo assim, alguns pescadores têm
“sua isca preferida” e não acreditam em determinados modelos, apesar de terem
sido criadas para condições específicas de pesca e terem sido testadas ou
desenvolvidas por pescadores profissionais.
É uma tendência humana, mas nada que a
paixão pela pesca esportiva não supere.
Dúvidas
e certezas sobre a escolha da cor
Nesse contexto, é primordial
questionar, o tempo todo, suas práticas e permanecer aberto às novas
tecnologias. A experiência não se adquire apenas com o passar do tempo e uma
grande quantidade de pescarias, é preciso pensar as suas técnicas, refletir,
testar, tentar, mudar, se adaptar e, sobretudo, ter a mente aberta. Caso
contrário, o pescador corre o risco que sua “experiência” se resuma apenas a um
acúmulo de anos e não a um verdadeiro conhecimento da pesca esportiva.
Existem algumas certezas que os
pescadores profissionais compartilham:
- muitos peixes conseguem distinguir
as cores e a luz ultravioleta (UV);
- a escolha da cor da isca é uma arte,
não uma ciência exata;
- a escolha do modelo e da cor da isca
é fundamental;
- é preciso sempre ter várias opções
em sua caixa;
- deve-se escolher a cor em função do
peixe e das condições de pesca, sendo a
cor/turbidez da água um item de grande importância nessa escolha;
- sempre corremos o risco do peixe não
fisgar, apesar de nossas habilidades.
Essa “leitura” correta da isca é tão
importante quanto a do pesqueiro, das condições de pesca e do resto do equipamento.
Boa parte do interesse da pesca esportiva com iscas artificiais reside nesse
“jogo”, nessa possibilidade de empregar sua “arte”, as habilidades do pescador
no duelo com o animal. Aliás, a margem de progressão é imensa, tendo em vista
as diferentes modalidades e espécies que existem, em condições que variam
muito.
Os
tipos de cores
Alguns especialistas dividem as cores
em duas categorias: as “incitativas” (ou “provocativas”) e as “imitativas”. As
incitativas seriam aquelas que provocam o peixe, como a Fire Tiger, por exemplo. As imitativas são aquelas, mais realistas,
que imitam as cores naturais de algumas presas que vivem no habitat de um
determinado peixe. Em algumas
circunstâncias, a mesma isca pode ser interpretada por um predador com incitativa
e por outro, como imitativa, caso da citada isca Fire Tiger, que pode ser "um predador barulhento"
(incitativa) ou "um pequeno Tucunaré" (imitativa).
Cor imitativa da isca Fury Articular 130mm da Poseidon
Cor provocativa (e imitativa) da isca X-Tiger da Poseidon
O que mais importa é adequar a cor às
condições de pesca, à espécie, principalmente ao comportamento do peixe naquele
dia, trocando de isca, testando as cores, profundidade, técnicas de nado e, ao
mesmo tempo, analisar em que momento essas mudanças estão dando resultado. O
pescador é como um detetive que deve “ler” as pistas sugeridas pelo predador e
pelas condições de pesca, a partir de seu conhecimento.
Eis, logo abaixo, uma tabela que
aponta cores que tendem a funcionar, conforme as condições climáticas e da
água. Devemos alertar que não são regras absolutas, mas apenas indicações,
conforme a experiência de muitos pescadores.
TABELA DE
CORES CONFORME MEIO E TEMPO
Água clara
|
Água turva
|
Pôr do sol ou Aurora
|
Todo tempo
|
|
Tempo claro
|
Cores claras:
Branco, prateado, cromado, cinza (cor mais
natural possível)
|
Cores
mais escuras:
Roxo, laranja, verde, azul |
Cores
muito escuras ou muito claras:
Preto, branco, fosforescente |
Branco/
Osso
|
Tempo nublado
|
Cores
mais escuras:
Roxo, laranja, verde, azul |
Cores escuras:
Azul, verde, preto |
Preto,
branco, fosforescente
|
Branco/
Osso
|
Água fria
|
Cores
frias:
Azul claro, verde claro, prateado, cromado |
Cores
mais escuras:
Roxo, laranja, verde, azul |
Preto,
branco, fosforescente
|
Branco/Osso
|
Água quente
|
Cores
quentes:
Amarelo, laranja, vermelho |
Cores
escuras:
Azul, vermelho, verde, preto |
Preto,
branco, fosforescente
|
Branco/
Osso
|
A
água modifica a percepção das cores!
Como já vimos, para o olho do peixe, o
contraste é mais importante do que o detalhe. É por isso que as iscas chamadas
“cabeça vermelha” são tão empregadas. Pelo mesmo motivo, as cores das iscas em
geral tendem a marcar nitidamente fortes contrastes. Não significa que as cores
imitativas não sejam eficientes, pois estas podem ser um trunfo quando se
pretende imitar as presas que vivem no habitat do predador que o pescador
pretende apanhar.
A luz visível é outra questão
fundamental. Onde as cores são de extrema importância em nosso meio, abaixo da
superfície da água, as cores do espectro visível são rapidamente filtradas com
o aumento da profundidade ou são alteradas pelo meio aquático. Com a atenuação
das cores, o que resta são tons de cinza que podem ser o motivo pelo qual o
peixe é tão sensível ao movimento e ao contraste.
Iscas de superfície: não há
necessidade de cores realistas, sobretudo, com tempo ensolarado, já que a
luminosidade pode dificultar a visão do peixe. Iscas do tipo popper ou hélice, entre outras, produzem
muito movimento, vibração e barulho, esborrifando água com seus sistemas de
cabeça côncava ou suas hélices.
Iscas de meia-água e shallow runner: de corpo rígido, geralmente
em ABS, evoluem entre 20cm a 2m. Os detalhes ainda aparecem e a escolha das
cores é, portanto, fundamental.
Iscas de profundidade: quanto maior a
profundidade, mais a percepção das cores muda. O vermelho, por exemplo, evolui
para laranja a partir dos 5 metros de profundidade e do laranja para um tom de
marrom aos 12 metros. O amarelo se torna cinza esverdeado a partir dos 25m. É
preciso lembrar disso ao usar shads
com cores provocativas para pescar além dos 15-20 metros. Para complicar as
coisas, a percepção muda também conforme a opacidade da água. As cores vivas
como, laranjas, amarelos, vermelhos ou verdes permanecem visíveis em água
turva, ao contrário das cores mais claras.
Tempo
claro/Isca clara, Tempo escuro/Isca escura
Eis a regra que numerosos pescadores
compartilham. Parte-se do princípio que peixes que atacam por baixo, com tempo
ensolarado, distinguem mal uma isca escura sobre o fundo do céu claro, enquanto
uma isca clara aparece com nitidez. Tentem fazer um experimento! Coloquem uma
isca escura e uma clara na frente de uma lâmpada acesa para melhor entender a
percepção do peixe. Ao contrário, com tempo nublado ou ao pôr do sol, uma isca escura
se distinguirá melhor sobre o fundo escuro do céu para um peixe que sobe para
atacá-la.
Alguns
efeitos especiais das cores
O efeito do sangue: Não se trata aqui
de uma ciência exata, mas uma mancha vermelha na garganta, na cabeça ou nas
penas (teaser) de uma isca
artificial, que simulam um peixe que está sangrando, poderia estimular o
predador.
Os efeitos de transparência, comuns na
natureza, teriam sua eficiência justamente na ausência de cor o que não
facilita a tarefa de localizar a presa e deixa o predador muito irritado.
O efeito “espelho”: com tempo claro,
uma placa no interior da isca reflete a luz de uma forma muito eficiente.
O efeito glitter aplicado com frequência em iscas de silicone parece curioso
para o olho de um pescador iniciante, mas na verdade esse efeito procura imitar
o brilho das escamas de alguns peixes.
O efeito holográfico e 3D: o princípio
é o mesmo, quando a luz natural bate na superfície da isca, o prisma gravado a
laser separa as cores que formam a luz, dividindo-a em um espectro multicolor.
A isca produz então flashes muito próximos de um peixe verdadeiro.
Últimas
considerações sobre as cores
O resultado do emprego de uma cor
depende também da voracidade do predador. Em momentos em que o peixe é muito
voraz, atacará praticamente tudo que passar na sua janela de ataque. Pode
ocorrer, portanto, que uma isca “incitativa” funcione em água clara com tempo
ensolarado e vice versa.
Ao contrário, depois de uma frente
fria e em determinadas situações, o peixe pode se tornar manhoso e não atacar
nenhuma isca, apesar das mudanças de cores. Nessas condições, vale a pena
variar diferentes modelos e tamanhos de iscas. Como vimos no capítulo quatro, neste
caso, a isca articulada se torna então um trunfo porque passa lentamente na
janela de ataque do peixe inativo, com um nado natural que produz muitas
vibrações e barulho: presa fácil por não exigir muitos esforços por parte do
predador.
Vale também lembrar a vantagem do
tratamento UV e da película holográfica para aumentar o poder de atração e a
visibilidade das iscas, já que o peixe tem uma visão peculiar e o meio aquático
altera as cores depois dos 5 metros de profundidade e em água turva. Para saber
mais sobre a luz ultravioleta e os efeitos holográficos, basta consultar os
dois primeiros capítulos sobre tecnologia em iscas artificiais.
Restam muitas dúvidas que necessitarão
de pesquisas mais sérias, tais como, por exemplo, se o peixe é capaz de se
adaptar às cores das iscas em locais nos quais há uma grande pressão por parte da
pesca esportiva. Conforme afirmam alguns pescadores, os peixes estariam se
acostumando a detectar as iscas “incitativas”, inclusive a famosa “cabeça
vermelha”, o que faria com que estas não dêem resultados tão bons quanto as
“imitativas” nestes locais.
Lembrem-se! Desde 1653, data da
primeira isca artificial (em forma de peixe) conhecida no Ocidente, o objetivo
têm sido o mesmo, criar iscas que imitam presas ou provoquem os predadores,
para enganar o peixe e fisgá-lo. Basta-nos lembrar de soltar o peixe logo após
a foto, respeitando algumas regras básicas para a soltura do animal.
Pratiquem o pesque e solte e tenham ótimas
pescarias!
Equipe Poseidon Brasil
Consultor Técnico: Sr. Adão da
Floripesca
www.loja.poseidonbrasil.com.br
www.poseidonbrasil.com.br
http://www.youtube.com/user/PoseidonBrasilPesca