Estudos sobre a prática do “Pesque e Solte”
Estudo 1: E depois da
soltura?
1 / Estudo realizado
por Norbert Morillas e Sylvain Richard* na França, publicado na revista Pêches sportives n°40, em septembre de
2002.
O
que acontece com os peixes soltos pelo pescador?
As
consequências da captura com linha estão relacionadas a três fenômenos: os efeitos ocasionados pelo combate e a manipulação, os ferimentos causados pelas garateias e os problemas ligados a uma despressurização muito rápida.
Efeito fisiológico do combate
O combate corresponde para o peixe a uma atividade muscular intensa, tendo por consequência a rápida aparição de mecanismos anaeróbios (a energia não tem mais origem, como numa situação normal, nos fenômenos ligados ao uso do oxigênio). Estes
mecanismos provocam então a produção de ácido lático, como durante a primeira
fase de esforço para um esportista que não se aqueceu o suficiente antes da
atividade física. Esta produção de ácido lático diminui a capacidade do sangue
de transportar o oxigênio, o que resulta em dificuldades respiratórias para o
peixe. Essas dificuldades não aparecem obrigatoriamente logo na soltura do
animal e podem surgir de 2 até 8 horas depois do combate, para algumas
espécies.
O
estresse ligado à captura e às manipulações do peixe pode também provocar uma
diminuição da taxa de linfócitos no sangue (ou glábulos brancos, células
encarregadas da desefa imunitária).
Esse
fenômeno resulta numa maior sensibilidade às doenças, sobretudo em águas
infestadas por germes patógenos, ainda mais se a água for quente.
Os
efeitos do estresse levariam 3 dias para desaparecer totalmente, conforme esses
estudos.
Ferimentos
ocasionados pelas garateias
A
importância dos ferimentos depende estritamente da modalidade de pesca. O fator
mortalidade é, neste caso, assimilado a uma única causa: a ruptura dos veios
sanguínios da boca, das brânquias ou órgãos vitais internos (coração,
fígado...) dos peixes. A mortalidade é, sobretudo, atribuída à profundidade que
vai atingir a garateia (ou anzol!) na boca do peixe, que provoca lesões mais
graves, conforme a profundidade.
Efeito de
decompressão
O
efeito é causado por tirar brutalmente o peixe de grandes profundidades, que
sofre importantes diferenças de pressão, o que pode ter consequências mortais. Os
resultados deste efeito ainda permanecem pouco conhecidos. Mas o que se sabe é
que esse fenômeno varia em função da espécie.
Taxa de sobrevivência
Uma
síntese de diversos estudos empreendidos sobre os salmídeos nos Estados-Unidos
resulta globalmente nos resultados seguintes:
-
A pesca com iscas artificiais permite uma taxa de sobrevivência, depois da
soltura, de quase 95%, sem diferenças significativas entre os tipos de iscas.
-
A pesca com isca natural resulta em taxas de mortalidade 10 vezes superiores às
pescas com isca artificial; A mortalidade atinge então 50%. Em caso de enrosco
profundo do anzol, o fato de cortar o fio rente à boca permite aumentar a
taxa de sobrevivência de 20%.
-
As iscas do tipo fly (ou mosca) têm
taxas de mortalidade muito ligeiramente inferiores às outras iscas artificiais,
sem que essa diferença seja significativa (4% contra 6% em média).
-
O uso de garateias sem farpas não é determinante para reduzir os efeitos dos
ferimentos. No entanto, a retirada da garateia é facilitada o que permite
soltar o peixe mais rapidamente, reduzindo o estresse do animal.
Outros
fatores influenciam também as taxas de mortalidade: tamanho e tipo de
anzol/garateia, temperatura da água, condições de manipulação, etc.
Observem
que esses resultados subestimam as taxas reais de sobrevivência. Esses
experimentos são realizados em tanques, após a captura de peixes (selvagens ou
domésticos), o que constitui um fator negativo aumentando artificialmente a
mortalidade em relação às condições de pesca na natureza.
De
fato, outro estudo realizado no rio Yellowstone, nos Estados-Unidos, revela uma
taxa de mortalidade bem menor: 0,3% de mortalidade; esse resultado se explica
também pela regulamentação (pesca unicamente com isca artificial) e a
resistência da truta Cutthroat.
Essas
informações permitem tranquilizar os pescadores esportivos sobre o futuro do
peixe na prática do “pesque e solte”. Assim, é preciso manipular e soltar o
peixe adequadamente e limitar ao máximo o tempo de manipulação do peixe fora
d’água.
*Sylvain Richard et Norbert Morillas possuem diplomas do laboratório de hidrobiologia da faculdade de Besançon, na França.
Tradução e adaptação do artigo “Catch & Release, no-kill, et après...” publicado no site: www.moucheur.com/mortaliten.html
Equipe Poseidon.
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